Índia
Cada ação tem consequências que vão além de uma mera vida humana.
Karma é uma lei de causalidade que apareceu pela primeira vez nos Upanishads, os textos sagrados que expõem os Vedas, as escrituras mais antigas do hinduísmo, produzidas na Índia entre c. 1500 e c. 500 a.C. Karma também é um conceito-chave no budismo e no jainismo.
O termo karma significa “ação” em sânscrito e se refere à ideia de que toda ação tem um conjunto específico de causas e efeitos. Eticamente, karma é um registro metafísico do valor moral de uma pessoa. Quando alguém comete um ato maligno, adquire karma, quando alguém faz o bem, adquire mérito, o que cancela o karma. Karma está ligado ao Samsara (Sânscrito – o ciclo de renascimentos e mortes da reencarnação) porque quando as pessoas morrem, seu karma determina o tipo de renascimento que terão na próxima vida. No hinduísmo, isso está intimamente ligado ao sistema Varna (casta): uma vida virtuosa erradica o karma e garante o renascimento em uma casta superior que é mais capaz de atingir moksha, um estado de unidade entre o atman (verdadeiro eu) de uma pessoa e Brahman (realidade última, Logos ou Deus). No budismo, a vida é caracterizada pelo sofrimento; o objetivo do cultivo espiritual é erradicar o carma e atingir o Nirvana, um estado em que todo o carma é anulado e uma pessoa pode sair do ciclo de renascimento. No jainismo, expurgar todo o carma leva ao moksha, um estado feliz de libertação do Samsara. No hinduísmo e no budismo, as pessoas recebem carma apenas por atos intencionais, enquanto no jainismo, até mesmo atos não intencionais podem gerar carma.
A doutrina do karma influenciou as crenças espirituais de inúmeras tradições filosóficas, incluindo o sikhismo, o Falun Gong e a Teosofia.
Karma. É o décimo primeiro Nidâna ou causa de existência no encadeamento de causas e efeitos, no Budismo ortodoxo; mas também é o poder que governa todas as coisas, a resultante da ação moral, o Samskâra ou o efeito moral de um ato submetido para a obtenção de algo que satisfaça um desejo pessoal. Há Karma de mérito e há Karma de demérito Karma não castiga nem recompensa; é simplesmente a Lei única, universal, que dirige infalivelmente e, por assim dizer, cegamente todas as demais leis produtoras de certos efeitos ao longo dos sulcos de suas causas respectivas. Quando o Budismo ensina que “o Karma é aquele núcleo moral (de todo ser), o único que sobrevive à morte e continua na “transmigração” ou reencarnação, quer dizer simplesmente que, depois de cada personalidade, não resta nada além das causas que esta produziu, causas que são imorais, isto é, que não podem ser eliminadas do Universo, até que sejam substituídas por seus verdadeiros efeitos e por eles destruídas, e tais causas- a não ser que sejam compensadas por efeitos adequados, durante a vida da pessoa que as produziu – seguirão o Ego reencarnado e o alcançarão em sua reencarnação subsequente, até que a harmonia entre efeitos e causas seja totalmente restabelecida.
Nenhuma “personalidade” – simples conjunto de átomos materiais e de peculiaridades instintivas e mentais pode continuar como tal no mundo do Espírito (Mundos das Ideias – platônicos) puro. Só aquele que é imortal em sua própria natureza e divina essência, pode existir para sempre. E, sendo o Ego aquele que escolhe a personalidade que vai animar, depois de cada Devachân, e aquele que recebe através de tais personalidades os efeitos das causas Cármicas produzidas, o Ego, o Eu que é o “núcleo moral” já mencionado e Karma encarnado, é o “único que sobrevive à morte”. [Esta lei existe desde a eternidade e nela, porque é a própria Eternidade, e como tal, visto que nenhum ato pode ser coigual à Eternidade, não se pode dizer que atua, porque é a própria Ação. Não é a onda que afoga o homem, mas a ação pessoal que caminha deliberadamente e se coloca sob a ação impessoal das leis que governam o movimento do oceano.
O Karma não cria nem designa nada. O homem é quem traça e cria as causas e a lei kár-mica ajusta os efeitos e este ajustamento não é um ato, mas a harmonia universal, que tende a recobrar sua posição primitiva, como um ramo de árvore que, se dobrado com violência, retorna com a força correspondente. Se fraturar o braço que o dobrou, diremos que foi o ramo que quebrou o braço ou que foi a imprudência que acarretou tal desgraça? O Karma não destrói nunca a liberdade intelectual e individual, como o deus inventado pelos monoteístas. Não envolveu seus decretos na obscuridade de modo intencional, para confundir o homem, nem mesmo castiga aquele que ousa esquadrinhar seus mistérios; pelo contrário, aquele que, através do estudo e da meditação, descobre seus sendeiros intrincados e lança alguma luz em seus obscuros caminhos, em cujas revoluções perecem tantos homens, por desconhecerem o labirinto da vida, trabalha para o bem de seus semelhantes.
O Karma é uma lei absoluta e eterna no mundo de manifestação e, como só pode haver um Absoluto, assim como uma só Causa eterna sempre presente, os crentes no Karma não podem ser considerados como ateus ou materialistas, e menos ainda como fatalistas, visto que o Karma é uno com o Incognoscível, do qual é um aspecto, em seus efeitos no mundo material. (A Doutrina Secreta, II, 319-320).
Dentre as várias divisões do Karma estabelecidas (Karma individual e coletivo, Karma positivo e negativo, Karma masculino e feminino etc.), tem importância especial a tripla divisão em:
1°) Karma acumulado ou latente (Sañchita Karma), que é constituído pela multidão de causas que vamos acumulando no decorrer de nossa vida e que não podem ter realização imediata;
2°) Karma ativo ou começado (Prârabdha Karma), aquele cujos efeitos manifestam-se agora em nossa própria natureza, isto é, aquele que constitui o que chamamos de nosso caráter, as múltiplas circunstâncias que nos cercam na vida presente;
3°) Karma novo, aquele que é atualmente engendrado por nossas atividades diversas (Kriyamâna Karma). Esta divisão, exposta por J. C. Chatterji em Filosofia Esotérica da Índia, é a mesma encontrada na excelente obra de A. Besant, Sabedoria Antiga.
É preciso distinguir entre o Karma maduro, pronto a se manifestar como acontecimentos inevitáveis na vida atual; o Karma de caráter, que se manifesta nas tendências que dão resultados de experiências acumuladas e que são suscetíveis de modificação na vida atual pelo mesmo Poder (o Ego) que as criou na vida anterior; e finalmente o Karma que agora está sendo produzido e que dá origem a acontecimentos vindouros e ao caráter futuro. Estas são as divisões designadas pelos nomes de Prârabdha (começado que deve ser efetuado na vida), Sañchita (acumulado), uma parte do qual se manifesta nas tendências, e Kriyamâna, em criação ou formação”.
São Paulo, o apóstolo Iniciado, expressa de modo pitoresco a operação do Karma, dizendo: “Tudo o que o homem semear, colherá” (Gálat., VI, 7), sentença análoga àquela dos Purânas1: “Todo homem recolhe as consequências de seus próprios atos”.
A lei do Karma encontra-se inextricavelmente ligada à lei da reencarnação segundo a Teosofia e filosofias antigas da Ásia, África, Indo-Europeia pagã e Américas pré-cristão, incluso o Cristianismo primitivo, cujo conceito de reencarnação era amplamente difundido (ver Filón de Alexandria) mas foi suprimido pela Igreja Católica Romana nos concílios de Niceia e Constantinopla, por questões que levavam ao fortalecimento da indulgência e do dízimo que seriam decretados sob pena de excomunhão durante o Conselho de Tours em 567, um decreto para a coleta do dízimo foi promulgado e em 585, durante o Segundo Concílio de Macon virou decreto.
1 Bagavata Purana (em devanágari: भागवतपुराण, Bhāgavata Purāṇa), Serimade Bagavata Maa Purana (Śrīmad Bhāgavata Mahā Purāṇa), Serimade Bagavatam (Śrīmad Bhāgavatam) ou simplesmente Bagavata (Bhāgavata) é um dos dezoito principais textos purânicos (Maapuranas).

